JAC J3 encara rivais em teste de 500 km

21/07/2011 11:49

O JAC J3 (R$ 37.900) chegou ao mercado e trouxe, com ele, muitas dúvidas. No segmento mais vendido do país, o chinês oferece a tentadora proposta de comprá-lo com os principais itens de conforto e segurança de série pelo mesmo preço de seus rivais fabricados por aqui em suas versões de entrada. Além disso, o brilhante trabalho de lançamento da marca no país, realizado por profissionais com experiência no setor, o forte investimento em publicidade e uma rede de concessionárias estruturada estão fazendo muita gente pensar: será que vale a pena ter um chinês?

 Até por causa da profissão, é crescente o número de amigos e parentes que chegam com essa pergunta na ponta da língua, principalmente a respeito do J3, que está se tornando mais conhecido do público. Na edição de abril daRevista Carro, você já viu que ele superou os conterrâneos Chery Face e Lifan 320. Mas como ele se sai ao lado dos principais concorrentes nacionais?

 Para tanto, reunimos o Chevrolet Agile (R$ 36.116), Fiat Palio (R$ 36.860), Renault Sandero (R$ 33.600) e Volkswagen Fox (R$ 36.640) nas opções mais próximas em preço do JAC e com motorização acima de 1.0. Como você pode conferir nas fotos, na época em que a matéria foi realizada para a revista Carro o Sandero ainda não tinha estreado o facelift, mas como ele não sofreu nenhuma mudança mecânica significativa, seus resultados continuam valendo. O preço adotado para o Sandero, contudo, já é o da nova linha. 

O Ford Fiesta foi uma falta sentida, já que gostaríamos muito de reunir os representantes das principais marcas instaladas no país. A Ford alegou que não tinha uma unidade para nos ceder para a avaliação. Como alternativa, tentamos alugar um Fiesta 1.6, mas, pelo menos em São Paulo, só encontramos o hatch disponível com propulsor 1.0. A mesma “novela” ocorreu com o Fox, mas esta teve final feliz. Após uma longa negociação e inúmeros telefonemas, a VW não nos cedeu um carro para a reportagem. Contudo, conseguimos encontrar um para alugar.

Para irmos além do comparativo tradicional, decidimos complicar um pouco a vida para os cinco hatches aqui reunidos. Além de avaliarmos os modelos por critérios tradicionais, resgatamos nosso conceito do Master Test. Com isso, parte de nossa equipe de redação conduziu os modelos por cerca de 500 quilômetros distribuídos entre ruas, avenidas, estradas de terra (nas quais, obviamente, era possível trafegar com eles) e trechos de serra.

Reunidos em uma manhã de sábado, partimos da capital paulista rumo aos arredores do Pico dos Marins, um dos pontos mais altos do estado de São Paulo, com 2 420 m de altitude, localizado na cidade de Piquete. Além de avaliar as respostas de Agile, Fox, J3, Palio e Sandero em diferentes situações, aproveitamos para medir o consumo em duas etapas da viagem: a primeira sem ar-condicionado e a segunda com o uso do equipamento. Como o J3 só pode rodar com gasolina, optamos por utilizar o mesmo combustível também nos outros carros. Com isso, podemos comparar os resultados de forma mais objetiva. E, logo de cara, o Sandero surpreendeu.

 Na primeira parcial, com a maior parte do deslocamento por estradas, o Renault conseguiu média de 18,2 km/l no percurso que englobou as rodovias Ayrton Senna e Presidente Dutra. Ele foi seguido por Fox (17,3 km/l), Agile (15,8 km/l), Palio (15,7 km/l) e J3 (15 km/l). O Sandero, que conta com motor 1.6 8V de 92 cv com gasolina ou 95 cv com etanol, também se mostrou bem desenvolto nesse tipo de situação. “O Sandero foi uma grande surpresa. Além de silencioso, o motor é linear e elástico, o que torna a condução agradável”, diz o repórter Márcio Murta. Já o Agile e o J3, que possuem propulsores de menor deslocamento, não causaram boa impressão nos trechos de rodovias. “Na estrada, achei o Agile bem razoável. Ele até vai bem na hora de acelerar, mas é bastante ruidoso em rotações elevadas”, conta Ícaro Bedani, nosso repórter e mais um envolvido neste Master Test. “O Agile sofre com seu motor fraco em baixas rotações. A mesma sensação de falta de força também foi percebida no J3, que, em alguns momentos, nos obrigou até mesmo a ‘queimar’ embreagem para vencer trechos na subida de serra e na estrada de terra”, acrescentou Márcio Murta ao fim da viagem.

 Fato é que o Sandero, até pelo cabeçote de 8 válvulas, vai muito bem tanto na estrada como na cidade. O Palio, que agora conta com o novo 1.6 16V E.torQ, só não foi melhor porque é lento em baixas rotações e chega a pedir algumas reduções de marcha na estrada dependendo da situação. “O Palio é apertado e mole demais, mas é confortável. O Fox tem o melhor conjunto. O Sandero chega perto, mas precisa de um câmbio mais suave e de acabamento melhor para disputar a primeira posição”, opina o editor Gerson Campos.  O VW, assim como o Renault, também despertou elogios pelo conjunto de suspensão. “A suspensão do Fox é a que consegue filtrar melhor as imperfeições sem ser tão ‘molenga’. Além disso, ele tem mais estabilidade nas curvas, mas não fica à vontade na terra”, avalia o 
repórter Carlos Cereijo. 

Já na segunda parcial de consumo, englobando os deslocamentos por terra e percursos sinuosos, o VW obteve a melhor média, com 11,4 km/l, em uma situação de empate técnico com Agile (11,3 km/l) e J3 (11,2 km/l). Palio e Sandero vem na sequência com 10,7 km/l e 10,4 km/l, respectivamente. E foi justamente na estrada a caminho de São Paulo que o JAC J3 deu um belo susto no Carlos Cereijo.

Quando o repórter acionou o desembaçador traseiro, na Dutra, o vidro se estilhaçou. O estrago só não foi pior porque a unidade que estamos avaliando, a mesma do Teste dos 100 Dias, conta com película para escurecimento dos vidros. Na concessionária JAC, já em São Paulo, fomos informados de que ocorreu choque térmico. Vale a pena acrescentar que, antes do ocorrido, já havíamos procurado uma revenda JAC em outras duas oportunidades para trocar os fusíveis dos vidros elétricos, que paravam de funcionar com frequência. Só não tiramos o quarto lugar do J3 porque a falha não afetava um componente ligado à segurança. Contudo, tudo isso mostra que os carros chineses, apesar do apelo do preço, ainda precisam ser aprimorados para virar recomendação certa.

O Agile, por sua vez, ficou em último lugar não só pelo desempenho. Pesaram, também, as críticas de nosso time de jornalistas com relação ao acabamento interno. “A qualidade do plástico utilizado é muito ruim. Parece que falta um pouco de capricho na hora de montar o veículo”, resume Ícaro Bedani. O Palio, por sua vez, conquistou o terceiro lugar em parte pelas boas prestações de seu novo motor 1.6. Apesar disso, fica a ressalva para o espaço interno, o menor dos cinco. O Sandero saiu-se muito bem aqui, mas seus problemas de ergonomia e a simplicidade da cabine o deixaram em segundo. O Fox, em primeiro, mostrou que não gosta muito da terra, mas é o mais equilibrado.