Governo quer comprar tablets para escolas públicas. Isto poderia ser ótimo
Durante a abertura da Bienal do Livro, ontem, o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que compraria “centenas de milhares” de tablets para os alunos das escolas públicas brasileiras
Precisamos, agora, dar um salto, com os tablets. Mas temos que fazer isso de maneira a fortalecer a indústria, os autores, as editoras, para que não venhamos a sofrer um problema de sustentabilidade, com a questão da pirataria.
Haddad pôs tanta ênfase na questão de autores e pirataria provavelmente porque falava em uma palestra a “editores de livros escolares” na Bienal do Livro. Os editores deveriam de fato estar morrendo de medo: eles participam de uma indústria onde as licitações movimentam uma quantidade monumental de dinheiro. Para comprar os 162 milhões de livros que abastecerão a rede pública em 2012, o MEC gastou R$ 1,1 bilhão – só a Editora Ática faturou R$ 194 milhões. Para quem vende, é um negócio lucrativo, que depende de atualizações mínimas. Para o governo, é algo necessário, tecnicamente não tão caro (por unidade), mas que nem sempre entrega a qualidade desejada – não raro o MEC perde caminhões de dinheiro com livros que tem de ser recolhidos por 3 páginas erradas.
A última coisa que o governo precisa se preocupar é com livros para educação básica sendo “pirateados”. PDFs educacionais em escolas públicas é conhecimento chegando a mais gente. Isso é uma preocupação estúpida, que deveria estar em último lugar e não no centro da estratégia de tábuas educacionais.
Eu sei que logo as pessoas começarão com o papo “meu Deus, as pessoas estão estudando em escola sem energia e o povo preocupado com tablets bla bla bla”. Se fosse assim não teríamos laboratórios avançados de Neurologia ou músicos da Orquestra Sinfônica ganhando muito dinheiro. Coisas urgentes não excluem coisas caras e importantes, mesmo que atinjam menos pessoas a princípio.
E sobre tablets, não é preciso comprar iPads ou Galaxy Tabs, mas um Android básico numa tela de 7 polegadas com caneta e tela resistiva será mais que suficiente para começar um experimento em algum Estado, em determinadas séries. Use PDFs, programas educativos simples (é possível corrigir provas automaticamente!), com coisas como testes de conhecimento e mapas/modelos físicos interativos. Mais do que hardware, é importante tomar proveito da interface diferente, a portabilidade e economia no longo prazo. Gostaria de acreditar que é nisso que o governo está preocupado, mas aparentemente entender os interesses das indústrias nacionais de livros e eletrônicos – que basicamente remonta gadgets chineses – e produzir manchetes impactantes tipo “ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS TERÃO TABLETS EM 2012” é mais importante.